domingo, 8 de julho de 2012

Fatos & Fotos - Entrevista com Chico Xavier

“A Psicanálise será o instrumento de redenção quando
ela puder aceitar a reencarnação e a sobrevivência da alma”

O semanário "Fatos e Fotos"'.-.GENTE, do Grupo Bloch efetuou há alguns dias, duas entrevistas com o Francisco Cândido Xavier, cobertas pelo repórter Ivandel Godinho Jr. daquela revista, e que tiveram instante repercussão em todo o País.

A nossa redação procurou efetuar um resumo da notícia publicada, limitando-se a apenas transcrever as perguntas do repórter e  às respostas do médium Chico Xavier, para que a coletividade espírita, que não teve oportunidade de adquirir aqueles dois números, podendo inteirar-se do teor das informações do médium, que como sempre, são de grande atualidade.

 O inicio da matéria vem com a alegação de que o Grupo Espírita da Prece, instituição à qual está filiado o médium, já seria o "Vaticano do Espiritismo", e Chico Xavier o seu papa, dotado de uma quase infalibilidade o que, por certo, está em desacordo com o caráter da universalidade da Doutrina Espírita,que não se fundamenta em homens mas, sim, em todo um arcabouço filosófico e científico de profundas implicações religiosas, e que tem base no chamado consenso universal das comunicações espíritas, tão bem apregoado por Kardec.

Ivandel Godinho Jr. já tinha conversado com o Chico por duas vezes no Rio e foi cumprimentado pelo nome. Mas a maior surpresa veio a seguir, quando o médium disse ao fotógrafo de "Fatos e Fotos":
- Como vai o nosso caro Hoofmann?

O fotógrafo ficou estarrecido. "Como é que ele adivinhou o meu nome? Nunca ninguém me chamou de Hofumaan. Só o meu pai é que é conhecido assim..."

A ENTREVISTA

1 - Como se processa o fenômeno da psicografia?
- Tecnicamente, não sei definir. Sei apenas que os espíritos amigos tomam o meu braço e escrevem o que desejam. Há muitos anos perguntei a Emmanuel sobre o assunto. Ele respondeu: "Se a laranjeira quisesse estudar pormenorizadamente o que se passa com ela, na produção das laranjas, com certeza não produziria fruto algum. Não quero dizer com isto que o estudo de classificação em mediunidade deva ser desprezado. Desejo apenas confirmar que, como as laranjeiras contam com pomicultores e botânicos que as definem, assim também os mediuns contam com autoridades humanas que os analisam pelo tipo de serviço que oferecem.

2 – Mas o que acontece com você, durante o momento em que os espíritos estão usando o seu braço?
- Observo que minhas faculdades se acentuam em todos os seus aspectos. E realmente sinto-me na companhia dos amigos desencarnados, quando eles permitem, com tanta espontaneidade, como se fossem pessoas deste mundo, que nós vemos e ouvimos naturalmente.

3 - Você tem consciência do que está sendo escrito?
- Normalmente, não tenho conhecimento do assunto. O teor da mensagem, só conheço depois de recebida. Mas depende muito da reunião. Quando está harmoniosamente constituído por criaturas que só desejam o bem e a paz, eu me ausento da mensagem. O espírito escreve com toda a independência de qualquer impulso meu. Agora, quando a reunião está conturbada, eles fazem força para que eu fique consciente e então vou escrevendo o que eles vão ditando, sabendo mais ou menos o sentido.

4 - Qual é o seu segredo para suportar tanto trabalho?
- Agente vai se habituando. Há muitos anos aprendi a dormir menos, porque tinha necessidade de trabalhar mais. Hoje em dia, durmo 4 horas por dia e chega.

5 - Como está o seu estado de saúde?
-  A maioria dos meus companheiros de idade já se recolheram a uma expectativa em torno do desequilíbrio orgânico. Eu até que estou muito bem. Apenas um tratamento de acupuntura para a pressão baixa e um tratamento para os olhos.

6 - E se você ficasse cego?
- Seria uma provação, sem ser uma tragédia.

7 - E quando você morrer, Chico, quem será o seu substituto?
- Eu sou apenas planta inferior, que nasce no campo. Outras plantas vão aparecer. Não tenho pretensão nenhuma de estar em posição excepcional. A mitologia é muito triste e as relíquias foram feitas para os museus. Somos seres humanos frágeis, como todos os outros. Não podemos ser mitos.

8 - Você afirma que vê os espíritos e que fala com eles. Como se pode acreditar que, quando o homem morre, não acaba tudo?
- Nós acreditamos que, por enquanto, este é um assunto muito pessoal. Mas os próprios valores da vida falam pela imortalidade da alma, desde que queiramos estudar a vida, a natureza e tudo aquilo que representa o tesouro de nossas observações e de nossa cultura na Terra. Cada um de nós edifica a própria fé, pouco a pouco, no campo de nossas experiências.

9 - Você se preocupa com a morte física? De que forma?
- Bem, com a morte em si, no terreno da desencarnação propriamente considerada, o assunto não me preocupa. Mas o ato de morrer é, realmente, qualquer coisa que me dá cuidado, porque devo zelar pelo meu próprio corpo, a fim de que possa cogitar da máxima valorização de meus dias na Terra. Então, o meu cuidado pela vida não é simplesmente medo da morte, mas a necessidade de cooperar com a própria vida, para que ela me favoreça com uma segurança tão dilatada quanto possível. Encaro a morte como a mudança completa de casa, sem mudança essencial de pessoa.

10 - Se você fosse um cientista, como explicaria o poder mediúnico do homem?
- Como estou dentro da mediunidade, seria fácil para mim compreender o assunto, porque já estaria inclinado para o entendimento destas ocorrências chamadas de supernormais. E, se fosse um cientista, com a mente que tenho, o assunto da espiritualidade seria para mim tão fascinante quanto do ponto de vista da mediunidade.

11 - A mediunidade pode ser utilizada como um meio de comunicação entre vivos?
-  Para isso, temos a telepatia que, a nosso ver, já é conhecida entre os cientistas da Terra. Telepaticamente, desde que as criaturas encarnadas se adestrem no assunto, a telepatia poderá funcionar perfeitamente, como sistema de comunicação entre vivos.

12 - Qual foi a comunicação do além, recebida por você, que mais o impressionou?
- Neste assunto, destaco o livro Paulo e Estevão, a biografia que o espírito de Emmanuel, nosso mentor espiritual, escreveu, cogitando das vidas de São Paulo e Santo Estevão. Este livro me impressiona porque está muito além de qualquer possibilidade cultural de minha parte. Mas, como esses livros atingem hoje o número de 138, posso dizer que, quanto mais tempo eu vivo no meu corpo, mais me reconheço fora dos livros, sentindo e reconhecendo que os autores autênticos de todos os livros são os espíritos que já não habitam na Terra.

13 - Mas você nunca pensou em escrever um livro? Não seria capaz, se quisesse?
- Creio que, se tentasse escrever, conseguiria produzir alguma coisa, mesmo porque, depois de mais de 40 anos de livros mediúnicos, seria impossível que eu não pudesse traçar algumas páginas. Mas, renuncio a isto, porque considero a imensa significação dos trabalhos dos bons espíritos por meu intermédio. Não vejo nenhum proveito na minha intromissão na obra deles. Diante dos livros que psicografei, considero-me como uma espécie de tomada que faz a ligação entre as forças que eu próprio não posso avaliar. De modo que, na condição de tomada, não posso deixar de trabalhar. Pelo menos, enquanto o dono da usina, Nosso Senhor Jesus Cristo, através do administrador Emmanuel, não resolver "queimar" a tomada com um curto-circuito.

14 - Acredita na psicanálise?
-  Acredito profundamente. Penso que a psicanálise será o instrumento da redenção da humanidade, quando ela puder aceitar a reencarnação e a sobrevivência da alma, além da terra, com os efeitos conseqüentes de semelhante conhecimento. Porque, então, a psicanálise será um departamento da própria religião e nos ensinará que todo efeito tem a sua causa. E, por isso mesmo, nós não poderemos alienar Deus do campo de nossas vidas.

15 - Acredita nos milagres dos santos católicos?
- Perfeitamente, porque todos eles teriam agido na condição de medianeiros da espiritualidade superior.

16 - Apesar de você se considerar uma simples tomada, há uma tendência muito forte, entre algumas pessoas, a idolatrá-lo como santo. Como reage a isto?
- Nunca aceitei semelhante definição. Eu me considero, na mediunidade, um animal em serviço. Eu sou um animal a serviço dos bons espíritos, e nunca fiz mistério disto. E todas as vezes que me externei a respeito do assunto, nunca me vi, absolutamente, como uma pessoa privilegiada. Sou uma criatura de condição muito primitiva. Não sei como os espíritos me suportam. Cada vez mais eu sinto a minha desvalia, porque nada tenho a dar de mim. Compreendo que é muita bondade e todos me trazerem um abraço pessoal. Mas o problema da idolatria corre por conta daqueles que gostam dos mitos.

17 - Mas você não admite que seja uma pessoa inteligente, como entendem aqueles que não acreditam no fenômeno mediúnico?
- Não. Nunca me sinto assim. Basta lembrar que fui aluno repetente do quarto ano primário, na cidade de Pedro Leopoldo. Tudo o que sei, devo aos nossos amigos, em especial ao nosso mentor Emmanuel que, ao longo destes anos de convívio estreito, quase diário, me traçou programas e horários de estudo, nos qual a principio inclui até datilografia e gramática. Sempre procurando desenvolver os meus singelos conhecimentos de curso primário: o único que fiz até agora, no terreno da instrução oficial.

18 - A sua vida foi dedicada à divulgação do espiritualismo. Às vezes, você não sente vontade de voltar-se um pouco mais para sua vida particular?
- Sem dúvida que mais de 48 janeiros num trabalho uniforme, efetivamente, não dão para cansar. Mas, muitas vezes, desejamos uma internação dentro de nossa própria vida, porque a gente percebe que está vivendo a vida de outros - no caso, a vida de nossos amigos espirituais. Mas a verdade é esta: sinto nos amigos espirituais inteligências e corações tão abnegados e devotados ao bem, que é muito mais interessante para mim viver o que eles me oferecem do que a minha própria vida, que seria absolutamente rotineira do ponto de vista de uma existência quase animal.

19 - Como você define Deus?
- A definição que tenho para o meu coração é a de Jesus Cristo, quando chama Deus de Pai Nosso. Outras definições para mim são inabordáveis.

20- Quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha?
- É uma pergunta que eu também endereço a todos os meus amigos que cogitam de ciência. Como vivo por fé, personalizo o inventor de um e de outros em Deus.

21 - A teoria do evolucionismo de Darwin se enquadra nas idéias espíritas? Pode-se dizer que os macacos um dia serão homens também?
- Pessoalmente, eu creio que assim como todos nós temos o ideal de atingir a esfera dos chamados seres angelicais, é natural que os animais também desejam ser, um dia, personalidades do campo humano. Se o homem aspira a elevação e a sublimação, porque o animal não pode desejar a sua própria humanização? Embora, atualmente, não possamos de pronto conhecer o pensamento fragmentário dos animais.

22 - E em relação aos vegetais? Um homem poderia voltar reencarnado num vegetal?
- Isso nós não podemos admitir, porque seria um retrocesso. Ocorre que a evolução dos vegetais se verifica num plano ainda inabordável, especialmente para a minha compreensão. Teríamos que estudar o assunto do ponto de vista de graduação. Mas não devemos complicar o problema.

23 - Já que a reencarnação existe, segundo o Espiritismo, por que ela não se consolida através de fenômeno nos que permitissem sua maior divulgação?
- Este é um problema que está sendo examinado na humanidade terrestre. Vamos desejar que a sociedade humana possa atingir o conhecimento de semelhantes realidades. Mas isso, naturalmente, depende do esforço conjunto de todos aqueles que se interessam pela vida espiritual. A religião caminha para Deus, ensinando; a ciência - caminha para as novidades de Deus, estudando. As discussões se formam e a prova experimental do espírito, do ponto de vista científico, é sempre mais difícil. Mas essa prova já está sendo organizada pela própria ciência nos dias de hoje. Estamos caminhando mas, também do ponto de vista religioso, já imaginou a reviravolta que haveria no mundo – quase má violência do mundo espiritual em desfavor da Terra -  se tivéssemos, de um dia para outro, uma demonstração tão autêntica que atingisse as raias da violência? Mas estamos convencidos de que a parapsicologia, sem nenhuma idéia de fanatismo, como ciência pura de observação, alcançará resultados compensadores dentro de muito breve tempo.

24 -  Você pode provar que existe a reencarnação?
- Por que uns renascem em condições muito mais difíceis que os outros? Não podemos admitir a injustiça divina ! Se  pratiquei um crime, se lesei alguém, e não tendo pago a minha dívida  moral durante o espaço curto uma existência, é justo que eu faça esse resgate em outra existência, porque, de outro modo, compreenderíamos Deus como um ditador, distribuindo medalhas para uns e chagas para outros, o que é inadmissível.

25 -  Se o Espiritismo sustenta que cada pessoa que nasce é reencarnação de um antepassado, de onde vêm os excedentes da população mundial, uma vez que nasce mais gente do que morre?
- Isto é um estudo para aqueles que estão interessados em examinar os mapas relativos à população do planeta. O que nós, os espíritas, acreditamos é que estamos diante de um infinito. Não estamos entrosados a números. Se o planeta pode receber uma carga de habitantes de alguns bilhões de pessoas, o poder superior que nos tem garantido a segurança da vida cósmica até agora, naturalmente cuidará disto e com a tranqüilidade necessária. No momento exato, a providência divina inspirará a cabeça de nossos governantes, para que eles venham a legislar sobre este assunto, sem necessidade de que nós, os religiosos, façamos qualquer interferência.

26 - A pílula anticoncepcional não seria um método ponderável para o controle da natalidade?
- Ninguém pode deter a marcha dos anticoncepcionais na Humanidade. Seria sustentar uma ilusão, se fôssemos asseverar o contrário. Se a pílula existe, vamos pedir a Deus para que ela seja aperfeiçoada, e possa ser usada com a elevação necessária. O que não posso pensar é em vida sexual, em termos de promiscuidade. Se a pílula é usada para a planificação da família, se a pílula é usada com respeito a Ciência, que nos trouxe este recurso preventivo, para que o lar esteja dentro de um plano de segurança e de paz, necessários a nós todos, compreendo a pílula. Mas, se a pílula vem favorecer a multiplicidade ou o chamado pluralismo sexual, então é o abuso, e eu não entendo a pílula como um fator de garantia de promiscuidade em nossos grupos sociais.

27 - E o aborto?
- A criança-embrião é um ser vivo, e um ser vivo indefeso. O aborto é um delito difícil de ser classificado, porque a vítima está absolutamente incapaz de operar a própria defesa. Acreditamos que a prática do aborto consciente, indiscriminado e até mesmo apoiado por leis, devemos preferir os anticoncepcionais, que poderão merecer estudos específicos da ciência e beneficiar a humanidade.

28 - Como você vê a inseminação artificial?
- A inseminação artificial é um assunto que, a nosso ver, é interessante, pois também abriu o caminho para o bebê de tubo de ensaio, um problema de solução talvez iminente. Tenho ouvido por diversas vezes o Espírito de Emmanuel a respeito disso. Ele diz que o nosso respeito à Ciência deve ser inconteste e que o progresso da Ciência é infinito, porque a solução do problema do tubo de ensaio para o descanso do claustro materno é viável. Mas restará à Ciência um grande problema: o problema do amor com que o espírito reencarnante é envolvido no lar pelas vibrações de carinho, de esperança, ternura, confiança de pai e mãe, no período em que a criança é muito mais alimentada de amor do que de recursos nutrientes da terra.

29 - Algumas pessoas com deformidades físicas são recuperadas através de operações plásticas. Se o Espiritismo sustenta que os defeitos físicos são provações que devemos passar para evoluirmos, como você encara a cirurgia plástica?
- A cessação de uma prova em que uma pessoa está incursa pode terminar no além ou aqui mesmo. A plástica regeneradora é uma ciência, é uma parte da ciência médica muitíssimo louvável e da qual estamos recebendo muitos benefícios para a conservação da nossa vida, no setor da saúde e da apresentação.

30 - Você se submeteria a uma operação plástica?
- Se fosse para regenerar o aspecto de minha apresentação, acho que seria um dever meu. Para não assustar as pessoas em meu relacionamento habitual.

31 - Acredita que o materialismo está se sobrepondo ao espiritualismo?
- Nós estamos praticamente num ápice da civilização. Outras civilizações existiram na Terra, mas como os ápices de civilização não foram orientados pelo equilíbrio espiritual, estas civilizações como que desapareceram, dando lugar a civilizações em cujos cimos culturais estamos hoje. Mas a inteligência do homem é filha da inteligência de Deus. Não podemos viver apenas de inteligência. Precisamos de amor para sobreviver a todas as calamidades necessárias ao processo evolutivo em que estamos envolvidos na Terra. Não adianta estarmos rodeados de computadores, que sabem o que há em Marte ou em Júpiter, e vivermos aqui sedentos de carinho, morrendo à míngua de assistência espiritual.

32 - Por que os homens se matam em guerras e conflitos constantes?
- Porque não temos a paz e o amor que nós todos devemos desejar. Os espíritos amigos que se comunicam são unânimes em afirmar que essa taxa crescente de perturbação na atualidade decorre do desequilíbrio existente entre as nossas conquistas de ordem científica e o atraso dos nossos sentimentos. Se cooperarmos para que o amor sobreviva, a fim de que a mulher seja reposta em sua condição de tutora da vida na Terra, a quem Deus confiou o encargo de produzir a vida, com o auxilio do homem, estou certo de que, por intermédio do amor, a era tecnológica não será um deserto, um céu despovoado de alegria.

33 - Há uma ênfase em muitas de suas obras sobre o papel do Brasil como centro espiritual do universo. Não seria um pouco de patriotada?
-  Muita gente pensa que isso é verde amarelismo. Entretanto, os brasileiros conscientes, e que já desfrutam de bastante maturidade espiritual, se reconhecem num país extremamente inclinado à prática do bem. E a prova disto é que o Brasil, em seus eventos mais importantes como nacionalidade, sempre agiu como terra de criaturas cristianizadas e de profunda humanidade no relacionamento das criaturas umas com as outras. Não quero dizer que o Brasil seja um país privilegiado diante de Deus, mas que os brasileiros compõem uma comunidade extraordinariamente dedicada ao espírito que Nosso Senhor Jesus Cristo nos legou.

34 - Como você vê o momento político do Brasil atual?
- Como todo brasileiro: orando para que Deus nos proteja e mantenha a união de nossos governantes, para a nossa evolução como povo, aspirando que o desenvolvimento se faça em paz.

35 - Você já teve a sensação de medo?
- Tenho tido a sensação de medo de mim mesmo, quando sou tentado a fugir do bem e cair no mal. Nestas horas, eu tenho medo de mim e faço preces para que eu possa continuar na estrada sem me marginalizar.

36 - Mas houve época em que você tinha medo de avião, não é?
-Tenho feito diversas viagens de avião e, hoje em dia, tenho medo apenas de ficar uma pessoa inválida, partir uma coluna, etc. Mas da morte não tenho medo. Mas tenho uma história curiosa para contar sobre o assunto: na manhã de 3 de novembro de 1.958, eu viajava num avião de Uberaba para Belo Horizonte. Até Araxá, tudo correu bem mas, entre Araxá e a capital mineira, o aparelho foi tomado de grande excitação. Parecia descontrolado e inseguro. Os passageiros começaram a reclamar. O comandante, muito sereno, veio até nós e disse que não havia motivo para alarme, que a nave seguia para o objetivo em excelentes condições. O pessoal acalmou-se, mas, como os movimentos bruscos ficaram mais fortes, por alguns instantes, muitas pessoas começaram a orar em voz alta e quatro crianças passaram a chorar assustadas. A inquietação geral tomou meu espírito e comecei também a orar, quase gritando: "Oh! meu Deus! Oh! meu Deus, tende piedade de nós!" Nisso, quando eu estava nessas exclamações em ponto alto, vi Emmanuel entrar no avião. Veio a mim e perguntou por que motivo eu clamava daquele jeito. Respondi: "Estamos em perigo..." E acrescentei, suplicando: "Será esta a minha hora de morrer?" Ele, muito calmo, apenas me disse: "Não posso saber se o Senhor resolveu determinar a sua desencarnação agora, mas se você julga que vai morrer, procure morrer com educação, sem aumentar a aflição dos outros". Desde este momento, refiz-me na poltrona, enquanto pouco a pouco o avião retomava seus movimentos normais.

37 - Você acredita que haja vida em outros planetas? Já se comunicou com algum ser extraterrestre?
- Como tenho vivido em meio dos habitantes do mundo espiritual, o assunto para mim deixa de existir. Porque estes espíritos vivem através de organizações superiores, de modo que eles estão em outras dimensões da matéria. Portanto, para mim não é difícil e nem impossível acreditar na vida em outros planetas. Em outras dimensões da matéria, a Terra está repleta de seres invisíveis ao olhar humano que, por deficiência estrutural, ainda não recolhem este campo de vibrações.

38 - Você leva uma vida de asceta. Como conseguiu sublimar os seus problemas sexuais? Ou não conseguiu?
- A única coisa que posso dizer em matéria de sexo é que não me casei. Psicologicamente, sou uma pessoa como as outras, vista apenas por mim mesmo, na intimidade da minha própria consciência.

39 - Por que não se casou?
- Porque sempre tive um espírito de muito entrosamento com a vida familiar e com a tarefa doutrinária sempre muito ativa. Sempre tive meus interesses afetivos voltados mais profundamente para a Doutrina Espírita e para a mediunidade. Mas a Doutrina Espírita nunca me privou de qualquer atividade em matéria de regularização da minha vida sexual.

40 - Você nunca se apaixonou por uma mulher? Ou homem?
- Não, nunca me apaixonei. Agora, sobre sexo, peço licença para não fazer aqui, o meu strip-tease.

41 - O homossexualismo é um fenômeno natural?
- O problema da homossexualidade sempre existiu em todas as nações. No entanto, com a extensão demográfica do planeta, o assunto adquiriu característica de mais intensidade porque, nos últimos 50 anos, a ciência psicológica tem-se detido, e com razão, nos ingredientes mais íntimos de nossa natureza pessoal. Estamos efetuando a descoberta de nós mesmos, para além dos padrões psicológicos conhecidos ou milimetrados pelos conhecimentos que possuímos, dentro dos preceitos e preconceitos respeitáveis, que nos regem o comportamento social e humano. Creio que as tendências a homossexualidade surgem na criatura após muitas existências dessa mesma criatura, nas condições de feminilidade ou vice-versa. Penso, assim, na base da reencarnação, porque, além dos sinais morfológicos, à individualidade é uma soma de todas as experiências das existências anteriores. Em vista disso, a homossexualidade pode ser examinada hoje, proporcionando ao homem tanto campo de estudos quanto a natureza bissexual do espírito. O tema é, porém, objeto para simpósios de cientistas e instrutores da Humanidade, até que se possa encontrar a fórmula exata para decidir, do ponto de vista legal, quanto ao destino dos nossos companheiros num sexo ou noutro, aqueles que trazem a inversão por clima de trabalho a ser laboriosamente valorizado, pela pessoa que se faz portadora de semelhante prova ou de semelhante condição para determinadas tarefas.

42 - A abstenção sexual santifica o homem? A finalidade da relação sexual seria apenas a procriação de filhos?
- O assunto varia de pessoa para pessoa, conforme o grau de autocontrole que o espírito impõe a si próprio. As leis humanas evoluem com a evolução das personalidades humanas.

43 - Espírito tem sexo? Há sexo depois da morte?
- No Livro dos Espíritos, Allan Kardec, o codificador da Doutrina Espírita, afirma que, quando se perguntou aos benfeitores espirituais sobre o assunto, eles disseram que os espíritos têm sexo. Mas não como a criatura humana imagina.

Jornal Espírita – Janeiro de 1976


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